Fim de Sessão Marighella
Olá a todos e eu voltei, não vou falar que é pra ficar porque dá ultima vez não fiquei. Enfim espero que agora eu consiga conquistar vocês novamente com a palavra do Double Ls!!! E hoje vamos para um filme que eu gostei bastante, a minha volta aos cinemas Marighella.
Marighela é um filme histórico não no sentido de ele
retratar um fato histórico por meio de uma ficção, mas sim pelo momento no qual
ele foi lançado no Brasil e de sua importância política, marcando o fim de um período
do cinema nacional e abrindo as portas para o início de uma nova, esse é
Marighela.
Antes de começarmos a analisar o filme em si é
impossível para mim não falar sobre o que está entorno do filme, já que o filme
de Wagner Moura foi muito politizado pelo governo brasileiro e seus apoiadores
por tratar da ditadura militar no Brasil. Mas o longa Marighela em si não é um
filme político, é só um filme que conta por meio da ficção a história de um homem
que liderou uma guerrilha armada, entretanto o assunto do golpe militar é um
grande monstro que assombra o pais até hoje, e com sigo muitos assuntos não
resolvidos e negações sobre os fatos e por isso quando Wagner traz as telas
essa realidade por uma mídia mais acessível, os apoiadores do regime, que ainda
existe, ficam raivosos por tocar no assunto que pouco é falado abertamente pela
população.
Mas falando do filme, Marighela é um filme de ação com
elementos de drama, dirigido por Wagner Moura e roteirizado por ele e o Felipe
Braga, inicialmente para ser lançado em 2019 porem foi lançado em 2021.
O enredo é bem simples, o ano é 1968 onde os militares
no poder instituirão o AI 5 (Ato institucional 5) no qual dava aval a perseguir
opositores e eliminar qualquer ideia contraria ao governo de forma legalizada
pela lei vigente. Nesse contexto acompanhamos um homem nos seus 40 a 50 anos Carlos
Marighela que se opõe às ideias do partido comunista, criando assim uma
vertente de oposição armada. Um detalhe interessante do filme é que não
acompanhamos a vida toda de Marighela, mas só uma parte e com isso é extraído
os pontos mais tensos de sua trajetória de vida e dando liberdade do filme
seguir a cronologia como desejar, principalmente no início do filme que tem
alguns momentos de quebra na cronologia dos fatos que infelizmente não se estende,
ficando só no início.
Um fato curioso é que eu conhecia Marighela pelos meus
professores de história como um terrorista de um trem, e o assunto
não passava muito disso e o filme começa apresentando o tal ato de terrorismo
do trem, que são alguns planos sequencias bem interessantes, ditando a forma
que a câmera irá se comportar durante todo o filme. A câmera aqui lembra muito
o modo de filmar do cinema novo, a famosa “câmera na mão” onde vários momentos
a câmera se movimentam semelhante ao personagem que estamos acompanhando e ser
uma visão muito próxima dos personagens, com direito a alguns monólogos bem
poéticos na reta final, além de mostrar bem de perto as reações das personagens
dando a sensação que estamos do lado da pessoa. Falando nas personagens, os
atores brilharam nesse filme, entregando uma fidelidade impressionante, em
especial para Seu Jorge como Marighela que entregou a carga emocional
necessária para essa personagem tão complexo, Bruno Gagliasso como Lucio o
delegado que faz um grande papel antagônico que ao mesmo tempo compreensível , Bella
Camero como Bella a jovem da guerrilha que em cenas de tensão e drama me deixou
apreensivo e ansioso pelo próximo acontecimento
e por fim ela a Adriana Esteves como a Clara que demonstra a visão de
quem está por fora do conflito todo no geral, demostrando o amor que ela sente
por Marighela e medo por ele e por ela.
Outro fator que auxilia a atuação é o som, que é de
grande impacto e bastante marcante, como a câmera é bastante dinâmica por vezes
não vemos o que realmente está acontecendo com muita clareza, mas o som de
socos, tiros, entre outros completam a cena na cabeça do espectador dando o
mesmo impacto que seria vendo uma cena de tiroteio real, um exemplo muito bom
disso são as cenas de tiroteio, em especial da fuga do banco, no qual raramente
vemos os policias atirando já que a perspectiva da câmera está acompanhado os
revolucionários mas o som batendo nos carros com a câmera se mexendo como se
nós estivéssemos lá com eles na fuga, mentalmente o espectador consegue
completar as lacunas que a câmera não mostra, usando seus outros sentidos para
completar a narrativa.
Um dos assuntos centrais do filme além da vida de
Marighela e a ditadura em si é como o próprio brasileiro é inimigo de si mesmo
pois em vários momentos vemos os militares estadunidenses no filme sugerindo ou
até mandando ações contra os rebeldes, mas sempre o delegado define uma forma
mais cruel de “resolver” as coisas, ou seja, um brasileiro é mais violento
contra um igual do que o próprio estrangeiro e chegamos no ápice dessa
problemática em 2 momentos o primeiro é quando matam um embaixador dos EUA e o
delegado diz que irá matar Marighela, não porque o estrangeiro quer mas sim
porque ele genuinamente acredita que matar ele vai ser bom para o pais o outro
é na cena de tortura onde ele deixa explicito que eles se divertem matando um
brasileiro, “Eles estão matando um brasileiro”, essa questão se agrava até hoje
onde grande parte dos próprios brasileiros vem a si mesmos com inferioridade e
desprezo e tem a famosa frase “o ruim do Brasil é o brasileiro” será que é?
Já do lado de Marighela é bastante nítido a mensagem
de que “você não está sozinho nessa luta”, onde passamos grande parte do filme
com as personagens se questionando se o que eles estão fazendo realmente vale
apena, se outros estão do seu lado, a insegurança de lutar com uma suposta
maioria ideológica é imponente, e essa imponência e impotência do grupo é
demonstrada a todo momento no longa com mortes de aliados e traições. Porem no
final do filme ele traz uma mensagem de esperança onde os esforços não foram em
vão, onde o brasileiro é o protagonista e podendo fazer a sua própria história,
pode ser até clichê, mas da forma que é contado não entra no linear piegas ou
nacionalismo barato.
Por fim Marighela traz um filme onde os atores e o som
são seus destaques, o filme tem uma cena, logo no começo, o filho de Marighela
no mar quando criança, o mar pode ter vários significados, mas irei utilizar o
de início, nascimento. Esse filme para mim é um grande ponto final de uma era
de filmes Brasileiros nos anos 2000 até aqui, com filmes apoiados
majoritariamente pela a ANCINE, que na atualidade foi deixada de lado,
sobrevivendo a base de aparelhos. Porem com os streamings e o próprio YouTube o
cenário cinematográfico está mudando, e sustentando uma parte do cinema
brasileiro, se isso é bom ou ruim só o futuro dirá. Assim como, o filho de
Marighela está no mar à deriva o cinema brasileiro se encontra no mesmo lugar
sem um rumo certo, porem renascendo do mar e resistindo.