domingo, 17 de abril de 2022

 

Fim de Sessão Marighella

 

Olá a todos e eu voltei, não vou falar que é pra ficar porque dá ultima vez não fiquei. Enfim espero que agora eu consiga conquistar vocês novamente com a palavra do Double Ls!!! E hoje vamos para um filme que eu gostei bastante, a minha volta aos cinemas Marighella. 

Marighela é um filme histórico não no sentido de ele retratar um fato histórico por meio de uma ficção, mas sim pelo momento no qual ele foi lançado no Brasil e de sua importância política, marcando o fim de um período do cinema nacional e abrindo as portas para o início de uma nova, esse é Marighela.

Antes de começarmos a analisar o filme em si é impossível para mim não falar sobre o que está entorno do filme, já que o filme de Wagner Moura foi muito politizado pelo governo brasileiro e seus apoiadores por tratar da ditadura militar no Brasil. Mas o longa Marighela em si não é um filme político, é só um filme que conta por meio da ficção a história de um homem que liderou uma guerrilha armada, entretanto o assunto do golpe militar é um grande monstro que assombra o pais até hoje, e com sigo muitos assuntos não resolvidos e negações sobre os fatos e por isso quando Wagner traz as telas essa realidade por uma mídia mais acessível, os apoiadores do regime, que ainda existe, ficam raivosos por tocar no assunto que pouco é falado abertamente pela população.

Mas falando do filme, Marighela é um filme de ação com elementos de drama, dirigido por Wagner Moura e roteirizado por ele e o Felipe Braga, inicialmente para ser lançado em 2019 porem foi lançado em 2021.

O enredo é bem simples, o ano é 1968 onde os militares no poder instituirão o AI 5 (Ato institucional 5) no qual dava aval a perseguir opositores e eliminar qualquer ideia contraria ao governo de forma legalizada pela lei vigente. Nesse contexto acompanhamos um homem nos seus 40 a 50 anos Carlos Marighela que se opõe às ideias do partido comunista, criando assim uma vertente de oposição armada. Um detalhe interessante do filme é que não acompanhamos a vida toda de Marighela, mas só uma parte e com isso é extraído os pontos mais tensos de sua trajetória de vida e dando liberdade do filme seguir a cronologia como desejar, principalmente no início do filme que tem alguns momentos de quebra na cronologia dos fatos que infelizmente não se estende, ficando só no início.

Um fato curioso é que eu conhecia Marighela pelos meus professores de história como um terrorista de um trem, e o assunto não passava muito disso e o filme começa apresentando o tal ato de terrorismo do trem, que são alguns planos sequencias bem interessantes, ditando a forma que a câmera irá se comportar durante todo o filme. A câmera aqui lembra muito o modo de filmar do cinema novo, a famosa “câmera na mão” onde vários momentos a câmera se movimentam semelhante ao personagem que estamos acompanhando e ser uma visão muito próxima dos personagens, com direito a alguns monólogos bem poéticos na reta final, além de mostrar bem de perto as reações das personagens dando a sensação que estamos do lado da pessoa. Falando nas personagens, os atores brilharam nesse filme, entregando uma fidelidade impressionante, em especial para Seu Jorge como Marighela que entregou a carga emocional necessária para essa personagem tão complexo, Bruno Gagliasso como Lucio o delegado que faz um grande papel antagônico que ao mesmo tempo compreensível , Bella Camero como Bella a jovem da guerrilha que em cenas de tensão e drama me deixou apreensivo e ansioso pelo próximo acontecimento  e por fim ela a Adriana Esteves como a Clara que demonstra a visão de quem está por fora do conflito todo no geral, demostrando o amor que ela sente por Marighela e medo por ele e por ela.

Outro fator que auxilia a atuação é o som, que é de grande impacto e bastante marcante, como a câmera é bastante dinâmica por vezes não vemos o que realmente está acontecendo com muita clareza, mas o som de socos, tiros, entre outros completam a cena na cabeça do espectador dando o mesmo impacto que seria vendo uma cena de tiroteio real, um exemplo muito bom disso são as cenas de tiroteio, em especial da fuga do banco, no qual raramente vemos os policias atirando já que a perspectiva da câmera está acompanhado os revolucionários mas o som batendo nos carros com a câmera se mexendo como se nós estivéssemos lá com eles na fuga, mentalmente o espectador consegue completar as lacunas que a câmera não mostra, usando seus outros sentidos para completar a narrativa.

Um dos assuntos centrais do filme além da vida de Marighela e a ditadura em si é como o próprio brasileiro é inimigo de si mesmo pois em vários momentos vemos os militares estadunidenses no filme sugerindo ou até mandando ações contra os rebeldes, mas sempre o delegado define uma forma mais cruel de “resolver” as coisas, ou seja, um brasileiro é mais violento contra um igual do que o próprio estrangeiro e chegamos no ápice dessa problemática em 2 momentos o primeiro é quando matam um embaixador dos EUA e o delegado diz que irá matar Marighela, não porque o estrangeiro quer mas sim porque ele genuinamente acredita que matar ele vai ser bom para o pais o outro é na cena de tortura onde ele deixa explicito que eles se divertem matando um brasileiro, “Eles estão matando um brasileiro”, essa questão se agrava até hoje onde grande parte dos próprios brasileiros vem a si mesmos com inferioridade e desprezo e tem a famosa frase “o ruim do Brasil é o brasileiro” será que é?

Já do lado de Marighela é bastante nítido a mensagem de que “você não está sozinho nessa luta”, onde passamos grande parte do filme com as personagens se questionando se o que eles estão fazendo realmente vale apena, se outros estão do seu lado, a insegurança de lutar com uma suposta maioria ideológica é imponente, e essa imponência e impotência do grupo é demonstrada a todo momento no longa com mortes de aliados e traições. Porem no final do filme ele traz uma mensagem de esperança onde os esforços não foram em vão, onde o brasileiro é o protagonista e podendo fazer a sua própria história, pode ser até clichê, mas da forma que é contado não entra no linear piegas ou nacionalismo barato.

Por fim Marighela traz um filme onde os atores e o som são seus destaques, o filme tem uma cena, logo no começo, o filho de Marighela no mar quando criança, o mar pode ter vários significados, mas irei utilizar o de início, nascimento. Esse filme para mim é um grande ponto final de uma era de filmes Brasileiros nos anos 2000 até aqui, com filmes apoiados majoritariamente pela a ANCINE, que na atualidade foi deixada de lado, sobrevivendo a base de aparelhos. Porem com os streamings e o próprio YouTube o cenário cinematográfico está mudando, e sustentando uma parte do cinema brasileiro, se isso é bom ou ruim só o futuro dirá. Assim como, o filho de Marighela está no mar à deriva o cinema brasileiro se encontra no mesmo lugar sem um rumo certo, porem renascendo do mar e resistindo.